segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Recordar é... ...aprender

Faz algumas décadas já, um homem extremamente talentoso que entre outras atividades, escrevia poesias, disse com toda a sabedoria do universo em suas palavras: “recordar é viver...”
            Não é difícil imaginar o impacto que esta frase causou durante os anos, afinal, ela se mostra presente como um dos grandes bordões eternos de nossa cultura. Estou certo de que não seria necessário colocar aqui a definição do verbo recordar, mas o faço mesmo assim porque desejo dar dimensão ao que pretendo tratar neste texto – recordar, do dicionário Aurélio: 1. Fazer vir à memória.
            Nas últimas semanas algo consideravelmente fora do padrão vem ocorrendo em minha rotina cotidiana. Algo que eu mal consigo explicar e quando tento, não posso de fato atestar minha compreensão sobre as reais razões para tal ocorrência. Sei, contudo, que esta mudança de ares tem sido como uma brisa marinha em um dia de sol forte e calor. Até mesmo aquelas atividades compulsórias de nossas vidas que sempre consideramos insuportáveis, tenho conseguido realizar sem passar uma corda ao redor do meu pescoço (força de expressão, claro). Esta tem sido a calmaria das últimas semanas.
            Eu escrevo calmaria, e me vem à mente a idéia de que acabei de passar por uma tempestade. De fato, passei recentemente por semanas duras, exigentes e que deixaram algumas recordações de momentos não tão agradáveis, mas eu poderia mesmo chamá-las de tempestuosas? Quando eu estava ali, no centro daquilo que parecia um furacão, coisas davam errado em sequência e eu só conseguia me sentir frustrado, sem encontrar o comportamento adequada para atravessar aquela situação. Hoje, no entanto, bem longe daquilo que agora me parece apenas uma ventania de final de tarde, questiono porque fui tão apático e me deixei levar por aquela maré de remorsos. O “longe” desta frase não está posto no sentido de tempo, mas sim no sentido de condição pessoal. E dentro deste sentido, é sabido que costuma ser de alguma forma fácil se questionar estas coisas. Ou melhor, costuma ser de alguma forma difícil entender o que faltou para saber contornar devidamente aquelas adversidades.
            Até o momento em que me permiti “fazer vir à memória”. Andava relutante em aceitar recordar e fechava a porta para todo e qualquer prenuncio de lembrança daqueles dias. Coisa curiosa, o pensamento nos vem à mente, mas a gente acha que consegue se enganar e se distrair. Acha que pode simplesmente virar a página e fingir que não tem nada escrito ali. Nada de errado com este “achismo” no entanto. É natural do homem precisar de um tempo indeterminado para aprender a lidar com certas feridas. É exatamente como aguardar a cicatrização corporal, se você pingar álcool na região recém ferida, possivelmente vai gritar em agonia. Podemos dizer que recordar situações incômodas traz esta metáfora consigo. Entretanto, enquanto a gente vai se enganando, se distraindo e virando a página sem ler, praticamente nada daquele pesar vai embora de fato. Pior, menos ainda daquela experiência se transforma em aprendizado.
            Sem conseguir olhar e analisar aqueles fatos frustrantes, não era possível traçar uma forma devida de recuperação e atuação sobre tais adversidades. Obviamente, meu humor e comportamento sofreram alterações, ficando claro a dissonância entre como eu deveria e gostaria de estar me portando e a maneira real a qual eu estava agindo, tomando decisões erradas e me arrependendo delas quase que no minuto seguinte a tê-las tomado.
            Gostaria de escrever aqui que em uma bela manhã, acordei e me dei conta da grande besteira que andava fazendo, ignorando meu mau momento e levando a vida irresponsavelmente para comigo mesmo. Infelizmente não posso, pois o que ocorreu de fato foi uma porta da vida se fechando e deixando bem claro o grande covarde que eu havia me tornado naquele momento. Se há uma característica básica da covardia, ela seria o permanente estado de defesa ativa. Neste estado costumamos reagir preventivamente a situações que podem se tornar incômodas e acabamos assumindo posturas excessivamente rígidas, que atrapalham nosso convívio com a mais variada gama de tipos de pessoas. O resultado desta matemática também acredito não precisar escrever aqui, quase todos senão todos que estão lendo sabem exatamente a que me refiro. Nossas perdas, vezes em que fomos mal compreendidos, vezes em que nos arrependemos de como agimos, estão todas relacionadas com a covardia assumida nesta postura.
            Nenhum livro em toda a história da humanidade trará mais aprendizado a uma pessoa em singular como a capacidade de tomar sua própria vida em perspectiva e buscar compreender como seu comportamento e sua forma de pensar têm influenciado cada momento de sua existência.
Como disse no início do texto, não há certeza do que fez a maré mudar para melhor, mas tenho a forte sensação de que a partir do momento em que coloquei tudo em perspectiva e busquei aprender com tal situação, me senti trilhando o caminho de volta a superfície. Então quando se deparar com o desejo de passar por cima e ignorar algum momento adverso, pergunte-se se esta não é uma boa oportunidade de aprender com a vida e evitar cair futuramente em um erro evitável. A dificuldade de transpor a dor de recordar estará lá, não se pode garantir que o esforço será bem remunerado, mas pode-se sim garantir que nos tornemos pessoas melhores, entenderemos melhor o porquê dos acontecimentos e sem dúvida nenhuma, estaremos mais preparados para quando a vida trouxer outra dificuldade. Não permita, como eu permiti, que certas portas se fechem em sua vida. 

"If I cannot change when circunstances demand it, how can I expect others to?"
                                               Nelson Mandela

Nenhum comentário:

Postar um comentário