quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Simply You

        As I walked unintentionally through that street that day I was simply unaware. Time was just irrelevant considering I had nowhere to go and the last thing on my mind was how far I were from the place I was once supposed to be...
        That second when all your thoughts go blank, all your muscles stop moving and it seems like you couldn't experience anymore peace than that which your life had finally given you. I catch myself wandering whether or not I want it to last cause I feel like there's something missing, I just don't know what that is yet, and to be honest, I don't even know if it really exists...
         Than just like that, I turn my head inexplicably and there you are, in your own way, unmistakable in the crowd, jumping instantly to my eyes. Just a quick look was all I could manage, of the girl that would move my world. Still, nothing else was needed, fate itself would pull its strings...
         Amazing, one can say, I would certanily agree, we were supposed to meet ourselves later that night. I guess it's just how it should be, unintentionally, unexpected, unpredictably. Days went by, and maybe we can say it was meant to be, but I'll always remember admiring your carefully hidden smile after our first kiss...
         Even if I wanted to describe how I felt that moment, I would be stuck trying a thousand times as words would always come short. That peace felt only so short ago, now feels like was last century. Before I can notice, I'm living a tangle of cravings and rushs I'm unaware how to control. Suddenly time gained a value I could never imagine and I find myself counting minutes if not seconds to meet you again...
         Now I know where I was supposed to be, and finally have found out what was missing. Plain peace? Who wants that when you can have love? I won't mind the few bumps in the road ahead, as long as you're by my side every step of the way.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Recordar é... ...aprender

Faz algumas décadas já, um homem extremamente talentoso que entre outras atividades, escrevia poesias, disse com toda a sabedoria do universo em suas palavras: “recordar é viver...”
            Não é difícil imaginar o impacto que esta frase causou durante os anos, afinal, ela se mostra presente como um dos grandes bordões eternos de nossa cultura. Estou certo de que não seria necessário colocar aqui a definição do verbo recordar, mas o faço mesmo assim porque desejo dar dimensão ao que pretendo tratar neste texto – recordar, do dicionário Aurélio: 1. Fazer vir à memória.
            Nas últimas semanas algo consideravelmente fora do padrão vem ocorrendo em minha rotina cotidiana. Algo que eu mal consigo explicar e quando tento, não posso de fato atestar minha compreensão sobre as reais razões para tal ocorrência. Sei, contudo, que esta mudança de ares tem sido como uma brisa marinha em um dia de sol forte e calor. Até mesmo aquelas atividades compulsórias de nossas vidas que sempre consideramos insuportáveis, tenho conseguido realizar sem passar uma corda ao redor do meu pescoço (força de expressão, claro). Esta tem sido a calmaria das últimas semanas.
            Eu escrevo calmaria, e me vem à mente a idéia de que acabei de passar por uma tempestade. De fato, passei recentemente por semanas duras, exigentes e que deixaram algumas recordações de momentos não tão agradáveis, mas eu poderia mesmo chamá-las de tempestuosas? Quando eu estava ali, no centro daquilo que parecia um furacão, coisas davam errado em sequência e eu só conseguia me sentir frustrado, sem encontrar o comportamento adequada para atravessar aquela situação. Hoje, no entanto, bem longe daquilo que agora me parece apenas uma ventania de final de tarde, questiono porque fui tão apático e me deixei levar por aquela maré de remorsos. O “longe” desta frase não está posto no sentido de tempo, mas sim no sentido de condição pessoal. E dentro deste sentido, é sabido que costuma ser de alguma forma fácil se questionar estas coisas. Ou melhor, costuma ser de alguma forma difícil entender o que faltou para saber contornar devidamente aquelas adversidades.
            Até o momento em que me permiti “fazer vir à memória”. Andava relutante em aceitar recordar e fechava a porta para todo e qualquer prenuncio de lembrança daqueles dias. Coisa curiosa, o pensamento nos vem à mente, mas a gente acha que consegue se enganar e se distrair. Acha que pode simplesmente virar a página e fingir que não tem nada escrito ali. Nada de errado com este “achismo” no entanto. É natural do homem precisar de um tempo indeterminado para aprender a lidar com certas feridas. É exatamente como aguardar a cicatrização corporal, se você pingar álcool na região recém ferida, possivelmente vai gritar em agonia. Podemos dizer que recordar situações incômodas traz esta metáfora consigo. Entretanto, enquanto a gente vai se enganando, se distraindo e virando a página sem ler, praticamente nada daquele pesar vai embora de fato. Pior, menos ainda daquela experiência se transforma em aprendizado.
            Sem conseguir olhar e analisar aqueles fatos frustrantes, não era possível traçar uma forma devida de recuperação e atuação sobre tais adversidades. Obviamente, meu humor e comportamento sofreram alterações, ficando claro a dissonância entre como eu deveria e gostaria de estar me portando e a maneira real a qual eu estava agindo, tomando decisões erradas e me arrependendo delas quase que no minuto seguinte a tê-las tomado.
            Gostaria de escrever aqui que em uma bela manhã, acordei e me dei conta da grande besteira que andava fazendo, ignorando meu mau momento e levando a vida irresponsavelmente para comigo mesmo. Infelizmente não posso, pois o que ocorreu de fato foi uma porta da vida se fechando e deixando bem claro o grande covarde que eu havia me tornado naquele momento. Se há uma característica básica da covardia, ela seria o permanente estado de defesa ativa. Neste estado costumamos reagir preventivamente a situações que podem se tornar incômodas e acabamos assumindo posturas excessivamente rígidas, que atrapalham nosso convívio com a mais variada gama de tipos de pessoas. O resultado desta matemática também acredito não precisar escrever aqui, quase todos senão todos que estão lendo sabem exatamente a que me refiro. Nossas perdas, vezes em que fomos mal compreendidos, vezes em que nos arrependemos de como agimos, estão todas relacionadas com a covardia assumida nesta postura.
            Nenhum livro em toda a história da humanidade trará mais aprendizado a uma pessoa em singular como a capacidade de tomar sua própria vida em perspectiva e buscar compreender como seu comportamento e sua forma de pensar têm influenciado cada momento de sua existência.
Como disse no início do texto, não há certeza do que fez a maré mudar para melhor, mas tenho a forte sensação de que a partir do momento em que coloquei tudo em perspectiva e busquei aprender com tal situação, me senti trilhando o caminho de volta a superfície. Então quando se deparar com o desejo de passar por cima e ignorar algum momento adverso, pergunte-se se esta não é uma boa oportunidade de aprender com a vida e evitar cair futuramente em um erro evitável. A dificuldade de transpor a dor de recordar estará lá, não se pode garantir que o esforço será bem remunerado, mas pode-se sim garantir que nos tornemos pessoas melhores, entenderemos melhor o porquê dos acontecimentos e sem dúvida nenhuma, estaremos mais preparados para quando a vida trouxer outra dificuldade. Não permita, como eu permiti, que certas portas se fechem em sua vida. 

"If I cannot change when circunstances demand it, how can I expect others to?"
                                               Nelson Mandela

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Nunca esqueça de agradecer

Hoje venho aqui não para escrever uma poesia, nem textos existenciais ou sociais. Venho aqui para algo muito mais simples e que a meu ver, não poderia deixar de ser feito pelas pessoas ao redor do mundo. Hoje escrevo um pequeno texto, mas que em termos de importância, é infinitamente maior que todos os outros que já escrevi aqui. 

Em virtude de acontecimentos das últimas semanas, quero tirar as linhas que se seguirão no próximo parágrafo para agradecer algumas pessoas que fazem parte da minha vida. Mais do que isto, quero de alguma forma tornar este agradecimento gravado nestas páginas digitais. Meus grandes amigos, meus grandes companheiros desta época a qual tive a gigantesca sorte de compartilhar.

Cada dia, cada mês que passa, vocês me mostram suas incríveis qualidades e estão sempre prontos pra me ajudar quando algo aparece. Mais sorte ainda, tenho de poder conhecer outras pessoas sensacionais de tempos em tempos, com as quais me identifico criando laços e acredito que em pouco também terei o prazer de chamá-los de grandes amigos. Posso sem pestanejar dizer que este é um dos melhores momentos que tenho vivido, e o crédito disso é todo de vocês. Dizer obrigado nem dá pra começar a agradecer propriamente, mas começo assim, porque acho importante mostrá-los que nunca deixo de perceber o quanto são essenciais nesta etapa da minha vida. Obrigado!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O que vejo, senhores e senhoras

Aos senhores e senhoras que lideram
Peço humildemente que reflitam
Aos senhores e senhoras que decidem
Peço unicamente que ponderem
Ouço por todos os cantos lamentos e indignações
Mas já não tento entender a cobiça dos figurões
Vejo diariamente centenas de inconformidades
E gostaria de poder parar a máquina das desigualdades
Mesmo não estando o palanque ao meu alcance
Procuro em um papel criar a minha chance
Sei do vosso ávido desejo por fartura
Também da imperfeição do homem como criatura
Apelo entretanto para a humanidade em vós
Que ampare aqueles deixados a sós
Hoje não há mais grilhões nem chicotes
Ainda assim liberdade parece vendida em pacotes
Jamais poderia um cidadão ser cidadão
Se não pode nem mesmo comprar um pão
Não pretendo viver na ingenuidade
Ou acreditar em lampejos de caridade
Quero apenas que possam enxergar o que vejo
Trata-se do meu mais profundo desejo
Receberão sem dúvida nenhuma mais em troca
Quando entenderem o que este poema coloca
Um povo assistido e melhor preparado
Produz muito mais que marginalizado
Sem demagogia ou piada sarcástica
É tudo uma questão de boa matemática
Em inúmeros sentidos se ganha mais quando mais se faz
Poderia até ser o lema em vosso próximo cartaz

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A última noite


A lua insinuava-se sobre o livre céu da meia-noite, completa, brilhante, atraía olhares como um pólo oposto de um ímã...

Poderia ter sido uma noite como qualquer outra, mas o casal deitou-se na areia para contemplar aquela beleza natural irresistível. Poderia ter sido uma noite como qualquer outra, mas não seria mais. Seria uma noite como nenhuma outra...
A brisa marinha a fez recolher-se nos braços dele. Os contornos da face dela levemente iluminados pela Lua o fascinaram como nunca antes. Beijaram-se com as leves ondas anunciando cada vez mais aproximarem-se de seus pés descalços, trocaram olhares profundos e sorriram um sorriso espontâneo daqueles que revigoram o corpo e a alma...
A quietude noturna os fez recostarem seus corpos e observarem o reflexo lunar no mar, o encontro das águas e as pedras, o céu infinito repleto de constelações desenhadas. Levantaram-se e caminharam de mãos dadas pela areia molhada que era visitada pela água do mar. Repentinamente ele a conduziu para brincar nas ondas, para sentir-se livre no ar, para viver aquela paixão...
Sob a luz do luar com os mesmos pés descalços e dançantes nas ondas, ele foi ao encontro dos lábios dela e aquela noite parou no tempo. As palavras falhariam repetidamente em descrever tal sensação, tal momento vivido por tão poucos. Os dias seguintes seriam irrelevantes, aquela foi a última noite...
Sob a luz do luar o casal entrelaçou as mãos e caminhou pela areia, distanciando-se aos poucos. Poderia ter sido uma noite como qualquer outra. Foi uma noite como nenhuma outra, a última no tempo.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Epifanias e cinéfilos

Você decide se dirigir a determinado lugar e ao chegar você nem percebe se perder nos próprios pensamentos. Seus olhos estão abertos, mas você não está atento a praticamente nada ao seu redor, muito porque na verdade é quase como se você estivesse olhando mesmo é para dentro de si. Cada palavra passando pela sua mente parece enunciada num tom leve porém extremamente definido. Você já esqueceu o que havia feito você se dirigir até ali, ou quem sabe ainda não tenha notado que aquele motivo predecessor não é mais o guia do momento. Sente o piloto automático tomando conta de várias funções? Perde noção de tempo e espaço enquanto poderia muito bem estar posando para uma pintura de tão imóvel que seu corpo permanece? E de repente, CLICK! Hiperbolicamente, você quase poderia identificar as cadeias de sinapses se formando enquanto inúmeros estímulos elétricos enviam sinais para a liberação de endorfina no sangue pela hipófise. Isso, meu companheiro de leitura, é o que chamamos de epifania.
            Há alguns dias eu vinha escrevendo algo que remetia a um assunto completamente diferente. Lendo os últimos textos e poesias que postei, percebi que estava focando demais numa vertente existencial, talvez em muito emocional até. Havia decidido então que rumaria para uma discussão mais social no próximo texto e comecei a colocar em ordem algumas idéias que já passeavam pelo teclado do meu notebook. Já estava avançado nos argumentos que gostaria de compartilhar quando de repente, travei. Algo me ocorreu que não consegui de forma alguma terminar de desenvolver o que tratava no texto. Experimentei uma pausa rápida e fui até a cozinha beber algo, sem sucesso. Abri uma página do Google e pesquisei mais a fundo o assunto em questão para ter talvez alguma inspiração, nada de novo. Encarei a tela por mais alguns segundos sem conseguir digitar nem ao menos uma vírgula e por fim decidi que melhor seria terminar em outro momento. Colocando de lado o note, resolvi que assistiria algo para distrair minha mente recém-frustrada pela incapacidade de finalizar minha linha de pensamento. Vou passando a lista de canais e paro ao ver na programação do MAX o filme Cine Majestic. Minha reação foi quase que instantânea e mudei para o canal imediatamente, por sorte, peguei o filme apenas uns 5 minutos após ter começado.
Filmes brilhantemente dirigidos com roteiros que emocionam e arrancam risadas ao mesmo tempo sempre foram os meus favoritos, e The Majestic (título original) consta entre os 5 no topo da lista. Provavelmente próximo da 10ª vez que o assisti, impressionei-me nas mesmas cenas, admirei a composição dos mesmos personagens de sempre e certamente sorri e me emocionei com este belíssimo enredo da mesma forma que as anteriores. Até o último segundo de filme senti-me completamente inserido naquela fantasia, me encontrando em tal experiência e imaginando como seria observar aqueles personagens ganhando vida. Sou um cinéfilo e como todo cinéfilo que se preza, assisto inúmeras vezes o mesmo filme se este despertou em mim algo que antes não estava lá. Conheço todo o desenrolar da história, até mesmo a sequência de determinadas falas, e mesmo assim estes filmes me mantêm absorto em seus mundos. Extremamente intrigante para mim, perceber que todas as vezes que os assisto novamente sinto algo que não estava lá. Não como se eu tivesse esquecido o que senti antes, mas sim que sinto sempre algo além das vezes anteriores.
O filme terminou e preenchido por algo que eu ainda não conseguia delinear, levantei e fui outra vez a cozinha beber algo, eis então que me ocorreu, a epifania que inspirou este texto.
Por que eu deveria tampar meus ouvidos aos anseios existenciais do meu coração? Foi a pergunta que primeiro me veio. Convenção social talvez? Nesta ótica digamos que “meninos” não deveriam tratar demais destas questões. Para impedir que o blog caia numa espécie de mesmice rotineira? Ao final, rejeitei todas as justificativas. Li uma vez que um grande escritor escreve através das palavras que escuta de seu coração e apenas em função dele sua inspiração flui. Gigantesca falha minha não conseguir lembrar de quem é tão bela frase, e apesar de não ser nenhum escritor, fui aprendendo estes dias que ele(a) tinha a mais completa razão. Mas será que ele(a) se deu conta, como eu me dei conta, de que tudo isto vai além do escritor? De que o escultor esculpe através das imagens de seu coração, o compositor compõe através das melodias de seu coração e certamente de que o roteirista cria através das histórias do seu coração. Todos nós, seja em qualquer profissão, em qualquer realidade familiar ou social, devemos aprender a dar ouvidos aos anseios do coração.
Permitimos em certos momentos que nossos sonhos e desejos se emoldurem em quadros que podem apenas ser admirados na própria imaginação, sem qualquer expectativa de realização. Somos aplacados por alguns percalços cotidianos, pelos infortúnios de outras situações e acabamos por afastar tais sonhos e desejos para este plano tão longínquo. Se acordar um dia e se perguntar por que está vivendo algo que não parece satisfazer seu coração, talvez você esteja simplesmente esquecendo-se de lhe escutar. Pare alguns minutos, ouça suas palavras, suas melodias, suas histórias e quem sabe até vislumbre suas imagens. Seu coração tem tentado alcançá-lo para lembrar-lhe que ainda há tempo. Sempre há tempo, para encontrar sua verdadeira vocação, sua verdadeira paixão, para reparar erros, terminar o que foi deixado incompleto e principalmente, para buscar ser feliz de fato.
Aprendi assistindo a este filme e a tantos outros, a importância de procurar identificar e viver exatamente aquilo que trará a felicidade e paz de espírito que tanto busco. Mais que assistir, busquei inserir em minha compreensão de vida o que tais histórias anunciavam, quase como se fosse eu mesmo vivendo aqueles personagens. Não será possível suceder todas as vezes, mas este é exatamente um dos propósitos da vida. Reconhecer que o caminho é longo e apenas através da vontade do coração, alguém será capaz de encontrar felicidade plena, por mais breve que ela dure.
Espero que tenha lido até aqui e que este texto não tenha sido mais um dentre outros que possa ter lido e pouco fizeram sentido para você. Prometo que o próximo tratará de um tema completamente não existencial, meu coração agora está pronto para me ditar o que eu procurava escrever. E se você tiver a oportunidade, assista ao filme, na minha modestíssima opinião, trata-se de uma bela obra.

                                 "We think too much and feel too little".
                                                               Charlie Chaplin

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Ascendendo uma vez mais

“Woke up one other day
The pain won't go away
I am growing
In peculiar ways
Into a light I pass
Another dream, another trance
This time, this time
This time I'm gonna rise into the light
In or out of time”


Este verso pertence à música This Time da banda The Verve e me faz bastante companhia nos últimos dias.


Há exatos dois meses publicava meu primeiro texto, mas os dedos que digitam hoje não produzem a mesma sinfonia daquele dia. Não estão mais sob a regência daquela que foi “a” motivação para o desvelar de todos os pensamentos que populam minha mente. O que eu gostaria que se tornasse presença provou-se na verdade passagem.
Há exatos dois meses começava meu primeiro texto escrevendo sobre como era engraçado o mundo das motivações em que vivemos. Tão irônico hoje sentir vontade de ter começado este texto com as mesmas palavras, pois é de certo modo realmente engraçado como os dias se desenrolam um após o outro.
Caminhamos por tantas estradas tortuosas, esbarramos nos corrimãos de escadas despedaçadas e muitas vezes vemos os portões de entrada fechados, por puro capricho do tempo. Tudo isto por conta de aspirarmos encontrar uma coisa em particular, um sentimento tão diferenciado e único que ultrapasse nossa imaginação. Independente de quanto alguns pareçam se esforçar para manter-se à margem deste sentimento, apaixonar-se é inerente a cada um de nós. Para aqueles que por algum motivo tornaram-se mais inclinados a vivenciar tal aspiração, a vida em si parece oferecer poucos atrativos quando apaixonar-se vai se tornando apenas uma relíquia de anos passados.
Aqui, eu me incluo. Sabemos como a vida ganha novos contornos quando encontramos alguém que possamos cuidar, sentir que também receberemos cuidado e um dia poder dizer que amamos esta pessoa. Somos tão ávidos diante da mera prenunciação deste sentimento que nem ao menos nos damos conta de todas as adversidades que permeiam alguns caminhos. Esquecemos que somos feitos apenas por carne e osso, que nem tudo está ao nosso alcance e principalmente, que sofrer não está conectado a uma alavanca que liga e desliga, célebre abstração. Quantas vezes acreditamos que podemos revirar o mundo de cabeça para baixo com nossas próprias forças quando encaramos os primeiros obstáculos. Agrada-me esta infusão de confiança e acredito fielmente que apenas um coração apaixonado é capaz de realizar o até então irrealizável, mas tenho a impressão que perdemos completamente uma pequena noção de vista, não depende unicamente de nós mesmos.
Em determinadas ocasiões podemos ser extremamente arrogantes e achamos que nossos sentimentos e nossa vontade serão por si só capazes de remar contra a maré. Ignoramos os avisos pelo caminho, relutantes que somos em aceitar que possivelmente desta vez tenhamos avistado apenas uma miragem e talvez resulte exatamente de todas estas características nosso grande paradoxo. Nestas ocasiões oferecemos algo que não receberemos em retorno.
Iremos aplicar nossa dedicação ao máximo, já que nosso prazer está diretamente interligado ao prazer desta pessoa. Substituiremos inúmeras vezes nossas necessidades para atender aos seus anseios tomando precauções para que nada em momento algum possa magoá-la, cuidamos do que gostamos e aprendemos ao longo dos anos como o carinho e o zelo são essenciais numa vida a dois. Compreenderemos suas limitações e por sua vez tentaremos reduzir as nossas pois queremos presenciar apenas seus sorrisos. E quando nos dermos conta que mesmo não sentindo a reciprocidade que gostaríamos, temos ao menos a sensação calorosa de buscar ser a melhor pessoa que poderia um dia amá-la, teremos certeza que fizemos tudo que poderia ser feito.
Por isso se você que hoje lê este texto, assim como eu também se indagou um dia como pôde ter se deixado levar por um sentimento que trouxe tanta dor e decepção, como pôde ter acreditado em algo que se mostrou tão frágil e indiferente à sua dedicação. Não permita que tais questionamentos quebrem seu espírito, não sinta que tudo foi em vão. Lembre-se que você está um passo mais perto de encontrar quem realmente merecerá seus sentimentos. Cada uma destas dores nesta experiência não devem ser motivos para recuar e sim para resistir. As decepções que vivemos nos magoam sempre inescrupulosamente e podemos enumerar cada uma das atitudes responsáveis por nos trazer tal pesar, mas sentimentos não são manufaturados nem controlados então não há quem culpar quando nos desiludimos. Mantenha-se resoluto e focado apenas em reencontrar seus passos na estrada, é nela que eventualmente encontraremos este alguém que também cuide de nós com a mesma dedicação, o mesmo carinho e nos presenteará com o melhor que busque ser todos os dias.
Acorde um novo dia, a dor ainda estará lá, mas você amadureceu em formas que nem mesmo entende. Enxergue a luz e nela projete seus novos sonhos e desejos pois desta vez você ascenderá por ela, independente do tempo.
Os dias se desenrolaram, sorri, suspirei, me apaixonei, me decepcionei, sofri e me reergui, minhas motivações se modificaram. Presenças ou apenas passagens, este mundo ainda me parece extremamente engraçado. Quando paro e olho novamente em retrospecto para as decisões que tomei após cada um dos momentos descritos acima neste parágrafo, confirmo que tudo tem seu motivo e momento.

"We can be mad as a mad dog at the way things went, we can swear and curse to fates, but when it comes to the end, you have to let go"
 - The Curious Case of Benjamin Button

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Dividido

Ele para e admira o horizonte, sente-se em paz
Ali, nas montanhas, percebe que existe harmonia na vida
O farfalhar das folhas ao vento, o canto dos pássaros
O leve som das correntes de água que percorrem os recantos das pedras
São tantos aspectos que o atraem àquela vida
Quase se perde em meio a tanto fascínio e poderia muito bem
Esquecer de respirar o mesmo ar que tanto o falta quando suspira

Ah! O ar fresco e puro das montanhas
Sempre foi um homem de um lugar só
Finca suas raízes tão profundamente
E a todos confessa que dali não pretende se mudar
Aprendeu a conferir o valor devido à terra que o acolhe

Mas então, precisa viajar e o litoral será seu destino
Certo dia observa o mar e toda sua intensidade
É para ele tão imponente e misterioso
A atração ali, também parece clara, ele não pode negar
Tenta, mas aos poucos percebe que algo vinha lhe faltando

Cada uma de suas células excita-se mais e mais
Sempre que a idéia de mergulhar lhe vem à mente
Sob o sol forte à beira-mar e o aroma de maresia
Descobre este outro mundo que também o cativa
E por um breve momento, surge um novo conceito em seus pensamentos
Imediatamente se repreende por sequer ter cogitado
Deixar de vez as montanhas onde encontrou tamanha felicidade

Define que seu retorno será em breve pois já sente
Uma saudade alastrando-se por seu peito
Quer voltar a sentir toda quietude e tranqüilidade das montanhas
Relembrar seus prazeres e retirar de sua mente
Qualquer dúvida que parece ter se apresentado

É surpreendido entretanto quando se senta na areia para despedir-se
Parado ali enquanto tem apenas as ondas em sua visão
Pode sentir como se o mar falasse com ele
Estivesse completamente focado em conquistá-lo
E fizesse questão de mantê-lo sempre por perto

Percebe enfim o que lhe faltava durante todo o tempo
A sensação de pertencimento, de que ali não apenas ele desejava
Mas também era desejado, de que ali não apenas ele admirava
Mas também era admirado, e de repente ele sente partir-se em dois
Como o dia e a noite, tão opostos, mas interligados pelo crepúsculo e a aurora

A saudade das montanhas permanece, ele não se esqueceu
Não se apagaram as memórias das noites ao pé da lareira
Ou das manhãs enevoadas que trouxeram tanta plenitude
Não é fácil para ele, dizer que provavelmente será apenas um visitante
Gostaria se fosse possível, de não ter que fazê-lo
Gostaria se fosse possível, de ouvir o vento convidando-o para ficar
Sabe que é o que precisa para ali sentir-se completo uma vez mais

terça-feira, 19 de julho de 2011

Sem o que procuro, mas com o que preciso

Existe para você um local no qual se sente completamente absorvido por seus pensamentos, ou quase? Onde por explicações desconhecidas você pode alinhar cada recanto dos seus devaneios e organizá-los de uma forma que lhe faça enxergar algo que estava ali o tempo todo, mas você não viu? Neste local não existem obrigações, não existe amanhã, as horas poderiam muito bem ser minutos e por alguns segundos você pode até mensurar cada sensação que o conduziu até aquele ponto. Nele você pode bater suas asas melhor que em qualquer outro lugar pois esquece todo o peso do mundo no chão. Ele existe para mim, e gosto de ir até ele sempre que preciso pensar, ler, ouvir ou simplesmente respirar de uma forma capaz de me ajudar a reencontrar minha paz interior. É o local desta foto ao lado, a pedra do arpoador. Gosto de encostar ali e simplesmente me deixar levar pra dentro das camadas mais profundas de minha mente.
Estive lá há poucos dias para tentar compreender certas adversidades que me ocorriam. Pensei, li, ouvi e respirei, perdi a noção do tempo enquanto pairava meus olhares nas linhas do horizonte se fundindo às águas do mar sob os já leves raios solares do final de tarde. Desta vez no entanto, diferentemente de ocasiões anteriores, algo me ocorreu de forma que não esperava me trazer tanta tranqüilidade. Não encontrei a resposta que procurava. Sentado enquanto repassava cada linha de pensamento até então infrutífera em sua busca por alguma resolução satisfatória, me dei conta de que havia negligenciado minha própria forma de compreensão do mundo, entendo que não é possível compreender tudo que se passa em nossa existência.
Nós, homens da atualidade, estamos tão acostumados a descobrir, medir, controlar e explicar que acabamos por esquecer que determinados eventos de nossas vidas não são feitos para serem compreendidos. Eles simplesmente ocorrem, reviram nossa existência como furacões, dissipam-se no ar deixando apenas os destroços como prova de sua passagem. Por que é preciso dar significado a tudo que nos ocorre? Por que tanto se aflige ao desconhecer a resposta para certas perguntas? E talvez mais que qualquer outra pergunta, por que sentir-se tão desamparado sempre que nos damos conta que não controlamos o desenrolar de certos eventos? Por mais que eu já tenha me deparado com tais questionamentos e concluído que somos capazes de tomar às rédeas apenas de uma parcela de todas as experiências que vivemos, algo parece adormecer minha memória e volto a me frustrar sempre que uma situação se encaminha pelo lado oposto à minha expectativa. Talvez esta seja uma emoção humana tão inerente e incontrolável que não me permita reagir de outra forma, posso entretanto remodelar todo meu repertório de reações a partir desta.
Em meu local de reflexão, não encontrei a resposta que procurava, acabei sim por encontrar a que precisava. Não compreenderei e não terei certeza de todas as respostas pois o que acontece na vida me escapa em vezes. Me desgastei ao focar meus esforços em descobrir porquês e comos quando na verdade deveria ter apenas deixado o curso natural dos acontecimentos me mostrar de que forma seguir. Esta sim a nuance existencial que em minha opinião deveria receber mais crédito. Claro que não pretendo defender o abandono total à procura dos sentidos dos fatos, sei tanto quanto qualquer outro da importância deste entendimento em determinadas situações. A questão na verdade recai exatamente sobre a capacidade de se desprender da sensação de domínio absoluto sobre todos os eventos para poder seguir em frente. Se algo ocorre e não é possível conceber suas bases para que seja possível enfim compreender e significar nossos sentimentos e ações, driblemos então todo o processo e aprendamos a nos conduzir passo a passo no escuro. Esqueçamos qualquer medida ou controle sobre os fatos que se seguirão, aproveitando cada situação como ela se apresenta. Ignoremos todo sentido de expectativa e continuidade para conferir atenção exclusiva ao inesperado e temporário. E, se você for como eu, reconheçamos que não somos nós que fazemos o caminho, e sim o caminho que nos faz, afinal, vivemos sob a soberania do improviso.


                   "Anyone who lives within their means suffers from a lack of imagination."
                                                                                                   Oscar Wilde

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Irreverente

Saudades de quando as luzes da cidade quase ofuscavam minha visão e traziam à tona uma espécie de tesouro prometido. Miragens nostálgicas de desejos há tempos guardados nas gavetas da memória de um sonhador insuperável. Quando o brilho incandescente o faz conhecer lugares que existem apenas em suas fantasias...
Hoje, porém, estas luzes me parecem tão fracas e trêmulas, mal posso enxergar a profundidade do caminho à frente. Não, não são as luzes que sabotam minha visão, mas meus próprios olhos, entorpecidos na areia do que deveria ser e não é. De fato triste, o dia da descoberta que somos escravos do inevitável, que nossos esforços serão limitados, não importando nosso empenho...
Escravos? Recusarei tal papel. Reconheço o caminho oferecido a mim e a opção de tomá-lo ou refutá-lo. Mas sei também que independe da escolha final, pois é minha compreensão que define sentido à experiência. Se o que deveria ser e não é passa por mim retirando a luz, serei então meu próprio rochedo e farol. Minha jornada nunca será tão longa que não desejarei percorrê-la e se meu tesouro prometido não está aqui, o encontrarei lá.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Saudosos de Carlos Drummond de Andrade

Lembro-me da primeira poesia que escrevi quando era mais novo, por volta do final do ensino fundamental ou início do médio. Imediatamente após escrevê-la fechei o caderno em ímpeto, como que assegurando seu anonimato. Naqueles dias, sempre que versos brotavam em minha mente, indagava se mais alguém ao meu redor possuía tais anseios. Não sei bem se me envergonhava de entrar em contato com meus sentimentos ou de pôr-me a escrever sobre eles, não sei nem ao certo se havia vergonha de fato, mas lembro bem que gostaria de saber como os grandes poetas se retiraram da confortável quietude da inércia e arriscaram seus pensamentos ao mundo pela primeira vez. Será que experienciaram grande medo? Sempre souberam refazer-se das críticas e menosprezos? Com o tempo, aprendi que invariavelmente as respostas eram sim e não respectivamente, mas mesmo assim, ali estavam eles imortalizados nas páginas dos livros, cada um responsável por inúmeros poemas escritos com sabedoria e sensibilidade. Suas determinações inspiraram outros, eu dentre eles, a dar ouvidos às suas vozes internas.
Não deixaria de ser verdade no entanto que às vezes acho que esta forma de relação com a vida se perdeu. O olhar do outro sempre foi algo pesado, mas nos tempos atuais alastra-se como fogo em vales uivantes, logo hoje quando o dom da palavra parece caracterizar esnobes intelectualizados. Triste inversão de valores. Quando leio Carlos Drummond de Andrade penso comigo mesmo: “Pena as pessoas não falarem mais assim.”
Deparei-me em minha estante com um livro deste que foi um dos mais sensíveis poetas brasileiros e me veio, como em épocas outras, o ímpeto. Mas desta vez, o ímpeto de escancarar o caderno do adolescente quem sabe envergonhado.

Ela

Das névoas de meus sonhos
Uma imagem, à tona se apresenta
Alucinação de meu inconsciente
Representação de meu futuro

Instantes onde mal posso enxergar
Os contornos de sua terna face
As linhas que definem sua beleza
Todavia, gravadas em minha mente

Beleza esta não comum, rígida ou extravagante
Mas sutil, doce, como um intocável luar
Repleto de energia e fulgor
Embora desconhecido e oculto

Dádivas a um mero sonhador
Conduzidas pelo ar, pela terra
Pelos caminhos que indicam
Sinais de uma futura paixão

Venero-a como ao desconhecido
Posto que continuo em sua busca
Ávido, meu coração se fortalece
Ao sentir seu perfume, sua doçura

Pela eternidade serei seu
E apenas seu, meu amor será
Aguardo-a ansiosamente
Procuro-a pacientemente

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Em sintonia com Ela

Até que ponto a vida imita a arte e a arte imita a vida? Certos dias somos tão desmascarados, crus e intensos como os filmes de Almodóvar, outros somos pretensiosos e caricaturados como os de Woody Allen, e ainda há aqueles dias em que encarnamos a faceta do drama incorrigível de Bergman. Certo mesmo é dizer que em vezes me perco e pouco consigo distinguir a linha que divide a experiência real da fantasia. Seria este o indício de que ando vendo filmes demais? Não mesmo, ainda existem tantos na minha lista que não tive a oportunidade de assistir. Assisti, contudo, a filmes suficientes para perceber que apresentamos a tendência a mergulhar neste mundo do faz de conta sempre que nos deparamos com a inevitabilidade do cotidiano.
Há aqueles que gostariam de deixar-se levar para os confins de suas irrealidades, como num filme de Spielberg, mas somos bons mesmo e nos superamos na arte do elaborar naqueles dias de Bergman. Aqueles dias em que pontes erguem-se como arcos infindáveis e a visão para o outro lado se desvanece no limite do horizonte, grades esculpem-se em carbono alótropo diante de nossos olhos e nosso único ímpeto é observar em incredulidade. Não há sombra de dúvidas, esses são os dias em que “ela” nos faltou. Ah! Ela! Personagem tão decisiva dos thrillers mais exóticos aos romances mais água-com-açúcar, majestosa tanto em sua presença como desastrosa em sua ausência. Recitei-a para mim mesmo tantas vezes que já mais que me familiarizei com seu tom arrastado, afastei-me apenas para descobrir que sem ela, vivo aos trancos e barrancos, desmistificado no vazio do infortúnio. Ela a quem hoje sempre comemoro. A Paciência! Nada badalada, talvez pouco cantada em verso e prosa, não obstante reverenciada em um momento magistral de um ícone da MPB bem como em outro de uma das bandas internacionais mais influentes que já tive a oportunidade de assistir ao vivo, “Patience”.
Estaria fadado ao insipiente, ao insolúvel, ao insosso, ao insuficiente, se não tivesse me rendido aos seus encantos. Hoje, como em outros dias singulares de minha existência, retiro um espaço de tempo para contemplá-la, pois sei que sem seu resgate repousaria mais uma vez nos lençóis do arrependimento. Sob sua tutela, no entanto sei que estou resguardado, tenho um estoque infinito de continues para cada game-over que ousar se escrever em minha tela. Se não alcancei o ápice da história é porque ainda estou superando os últimos degraus, não me questionando quantos já subi. Algo de excepcional acontece, quando da renovação da sua vontade de suceder-se, quando se deixa de lado qualquer obstáculo impendente e recoloca-se o foco no ponto que realmente nos traz um significado.
Aprendi através de árduas lições quão invaliável esta aliada é. Numa conjuntura social cada vez mais diligente e acelerada, onde decisões são requisitadas por atacado, não me espanta o esvaziamento de sua aquisição. Sabe aquela célebre frase que você já ouviu da sua avó/mãe/tia/vizinha/sogra, “nunca deixe para fazer amanhã o que você pode fazer hoje”? Bem, lhe darei agora um bom argumento para aquelas vezes que você deseja fingir que não ouviu. Deixe para amanhã sempre que você acreditar que este intervalo é necessário para que você conclua tal assunto em questão com a máxima capacidade possível. Seja esta capacidade relacionada à competência, informação ou simplesmente sensatez. Aguarde aqui, espere ali, mantenha-se lá, não há nada de errado nisto. Existirão situações que demandarão atitudes rápidas e decisões imediatas. Certamente que sim, mas na grande maioria das vezes nem nós mesmos nem nossos reais objetivos irão a lugar algum, caminhemos sem pressa então. Penso que tudo acontece no tempo certo e da forma correspondente, cabendo a nós saber encontrar nosso caminho dentro desta paisagem. Destino? Sim, como o próprio nome do blog já diz, experiencio a vida sobrevoando nas asas do destino. Mas isto, já é uma discussão para outro dia, até lá, que tenhamos paciência..


Não se apresse para chegar ao ponto mais alto de sua escalada na vida. Uma vez lá, você poderá apenas descer...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

No limiar das sensações

Quanto mais vivo, mais discordo de Platão e sua noção de “mundo das idéias”. Que me perdoe o filósofo grego, mas Sartre sim é que entendia das coisas mundanas... 
Pouco mais de um mês atrás tal frase me veio à mente pela primeira vez, e desde então tenho elaborado melhor, algo que há algum tempo passeia pelos meus pensamentos. As culturas contemporâneas valorizam demais a racionalidade em detrimento do contato emocional. 
Uma pequena observação de núcleos familiares e comunitários, meios de comunicação e doutrinas sociais, é o suficiente para se deparar com um imenso incentivo à capacidade de sobrepor a razão sobre a emoção. Crianças são repreendidas por rirem alto demais ou chorarem um pouco mais do que deviam, adolescentes são ensinados a suprimir suas emoções a fim de se prepararem para tornarem-se adultos “de verdade”, e bem, adultos são reticentes a permitirem-se sentir, já que aprenderam, desde onde se lembram, que sentimentos demais servem apenas para enevoar a capacidade de julgamento ideal das situações.
O senso comum aplicado costuma ser ainda mais severo. Ouvem-se críticas claras àqueles que deixam levar-se demais por seu lado emotivo, principalmente se explicitando uma emoção de tristeza, comumente associada à fraqueza. Seria então, que a expectativa de força e capacidade pressupõe uma espécie de robotização do comportamento humano? Desculpe-me, mas esta é uma enorme insensatez moderna.
Dentre tantas raízes de condução para este estágio atual de letargia emocional, onde o homem de valor é aquele que busca regular suas emoções para estender sua necessidade de raciocínio e controle, identifico um ramo da filosofia ocidental como grande precursora. Platão postulava que a sabedoria provinha do exercício da razão e era necessário ao indivíduo submergir-se em teias de pensamentos enquanto relegava as emoções, posto que a relação com as sensações traria a tendência ao erro do discernimento e a incapacidade de compreender os verdadeiros anseios da mente. Tal discurso é parte do entendimento chave da noção cunhada por ele de “mundo das idéias”. Estes ensinamentos tornaram-se pilar da filosofia grega, e por conseguinte, da filosofia ocidental, transpondo-se assim para a extensão do conhecimento cultural de inúmeras sociedades que beberam destas fontes. Não retiro a importância do desencadeamento intelectual resultante da filosofia platônica, só questiono o papel das emoções em sua obra.
Vivemos primordialmente de estímulos perceptuais através do contato com a experiência natural, nesse sentido, nada significa mais para mim que o entendimento de que apenas aprofundando-se no mundo das sensações, é possível apoderar-se de todas as ferramentas oferecidas para a condução ideal da razão. A construção das idéias propõe utilização máxima dos conceitos pertinentes a um determinado assunto. Ora, nenhum filósofo ou pensador que se preze pode conjecturar com propriedade sobre qualquer assunto específico se passa a vida abstendo-se de experienciar. O empírico é parte do aprendizado e do crescimento. Evitar o mergulho no rio das emoções resulta numa espécie de conhecimento sem causa. Como se me propusesse a discorrer sobre a perda de familiares quando desde que nasci não há nenhum histórico de morte em minha família.
No entanto, sei bem que não posso repousar todo o peso de tal panorama contemporâneo unicamente nos ombros dos preceitos culturais. É sabido que o homem sempre procurou minimizar seus momentos de sofrimento e provavelmente sempre procurará. Manter estreito contato com o mundo das sensações é tão igualmente saboroso e inebriante quanto amargo e causticante, vive-se mais próximo dos limiares da vida. Se paga um preço pela amplificação de todos os momentos de felicidade e prazer, a consequente amplificação dos momentos de tristeza e pesar. Já no domínio puro da razão, encontramos exatamente aquilo que se busca na maioria das vezes, a quase que ininterrupta linha da estabilidade aliada ao escudo do tempo, provedor da ilusão de que nossos sentimentos são simplesmente efêmeros e facilmente substituíveis.
De fato, constitui-se numa proposta tentadora, anestesiarmos nossa porção tempestuosa e emotiva em troca do firme solo racional. Não direi que nunca lancei palavras fumegantes ao ar nos momentos em que mais sofri, ou até mesmo em alguns que pouco sofri. Declarei fim à primazia dos sentimentos e desejei aprender as artes milenares da abstração factual e do pragmatismo emocional. Se as aprendi ou não ao longo do caminho, não sei, sei, contudo, que aprendi que a vida estabilizada e morna é chata! Negar aos meus sentimentos o oxigênio da existência trouxe-me apenas uma falsa noção de tranqüilidade e paz, no sentido que pouco me incomodava nos percalços da vida, mas também pouco me revigorava nos prazeres mundanos.
Se quiser experimentar o verdadeiro tempero da vida, é preciso estar disposto a queimar a língua aqui ou ali. Nós, seres humanos, concebemos importância a todo e qualquer conceito principalmente em sua ausência. Sem vivenciar a dor e o sofrimento, pouco se valoram a perfeição e a singularidade dos pequenos momentos, e não nos enganemos, a felicidade real é construída nestes pequenos momentos da vida.
Por isto atesto, razão e emoção deveriam estar interligados em ressonância, identicamente valorizados e apreciados pelo homem. É apenas através de um que o outro se estabelece, como o conceito oriental de yin-yang. Suprimir um dos lados leva unicamente ao desequilíbrio e a saturação equivocada do outro. Pensa-se demais, pondera-se demais, calcula-se demais, sente-se de menos. O resultado são mais e mais relatos de “como teria sido?”. Seja racional o quanto for possível, mas seja tão emocional quanto, sempre que deparar-se com a necessidade de sentir.


O verdadeiro valor da luz aparece quando estamos nas sombras. Só neste momento percebemos quão tolos fomos, quando menosprezamos o que realmente importava. Pagamos por nossa natureza, incapaz de evoluir, sem as marcas de nossos erros. Mas também somos brindados com este dom, de recriar-se a partir do zero, e tentar novamente...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Origem do novo

Como é engraçado o mundo das motivações em que vivemos. Como somos tão incrivelmente afetados pela passagem de certas pessoas em nossas vidas. Em vezes são passagens tão curtas que mal conseguimos localizá-las no tempo quando se olha em retrospecto. Em outros momentos são pessoas as quais tiveram tanta permanência e influência que parece que algo ficou para trás quando os caminhos se divergiram. De todas as formas, cada encontro que vivemos fornece uma inscrição em nosso mundo, e certas inscrições são simplesmente potentes demais para permanecerem quietas. Elas populam nossas mentes, anseiam nos mover em direção a algo e impedem que mergulhemos no sono da inércia. É aqui que encontramos a força propulsora de muitos atos os quais não conseguíamos retirar do mundo dos desejos, o catalisador da transformação de imaginação em ação.
Há anos escrevo textos e crio poesias apenas para armazená-los na memória de meu notebook, remetendo-me ao parágrafo anterior, tal armazenagem ocorria em muito pelo simples fato de não possuir a confiança apropriada para expor os cantos mais irreverentes de minha mente, e também pela certeza de que não conseguiria ter a dedicação necessária para atualizar um blog de forma devida e contínua. Ambos os fatores parecem ter ficado para trás e hoje publico meu primeiro post.
A questão da dedicação foi superada entendendo que um blog deve servir ao propósito de liberar os pensamentos que lhe fazem buscar trocar informações com outras pessoas com os mesmos questionamentos, logo, deve funcionar no sentido do desejo, ao invés de torná-lo uma obrigação incômoda. Já a questão da confiança trouxe mais dificuldades e digamos que foi resolvida apenas parcialmente neste primeiro momento.
Deixando para trás as introduções preciso antes de mais nada, identificar que a superação de tais fatores se deu exatamente por uma destas “passagens” em minha vida. Passagem a qual gostaria que se tornasse presença devido à tamanha desestabilização dos meus alicerces.
Pode parecer contraditório por um breve momento, mas parece claro para mim que as pessoas as quais mais nos atraímos sempre trazem consigo um tipo de aparelho capaz de provocar abalos sísmicos na constituição da massa terrestre em nossos mundos internos. Quando tomo tal metáfora para expressar certas relações humanas, não falo apenas de relações amorosas, mas sim de qualquer relação afetiva. Falo de namorados, amigos, mentores e aprendizes, etc.. Alguém capaz de modificar não apenas uma, mas inúmeras estruturas antes concebidas como solidificadas em nossa arquitetura pessoal, acabam por receber um olhar de fascínio por nossa visão. Elas são geralmente capazes de nos complementar em características que nós mesmos não tínhamos conhecimento de tal necessidade de ajustamento. Demonstram tamanho domínio de certas faculdades e atitudes que uma mera demonstração costuma nos tornar fãs imediatos.
Acredito que são essas relações que dentre tantos fatores, são as que mais nos marcam e mais nos atraem no campo das relações humanas. Em última instância, identifico que essas relações são também as que mais produzem motivações para a condução de uma nova ação, de uma nova forma de pensamento e de conhecimento próprio e exterior. Em outros momentos, parece-me que nosso mundo é modificado de tal forma, que nos faz ativar desejos há muito adormecidos e colocá-los à tona. No meu caso, sei que agora me pergunto até onde tais motivações me levarão, e mal posso esperar para descobrir.
Desejo que tenha sido uma leitura agradável e até...