quinta-feira, 16 de junho de 2011

Em sintonia com Ela

Até que ponto a vida imita a arte e a arte imita a vida? Certos dias somos tão desmascarados, crus e intensos como os filmes de Almodóvar, outros somos pretensiosos e caricaturados como os de Woody Allen, e ainda há aqueles dias em que encarnamos a faceta do drama incorrigível de Bergman. Certo mesmo é dizer que em vezes me perco e pouco consigo distinguir a linha que divide a experiência real da fantasia. Seria este o indício de que ando vendo filmes demais? Não mesmo, ainda existem tantos na minha lista que não tive a oportunidade de assistir. Assisti, contudo, a filmes suficientes para perceber que apresentamos a tendência a mergulhar neste mundo do faz de conta sempre que nos deparamos com a inevitabilidade do cotidiano.
Há aqueles que gostariam de deixar-se levar para os confins de suas irrealidades, como num filme de Spielberg, mas somos bons mesmo e nos superamos na arte do elaborar naqueles dias de Bergman. Aqueles dias em que pontes erguem-se como arcos infindáveis e a visão para o outro lado se desvanece no limite do horizonte, grades esculpem-se em carbono alótropo diante de nossos olhos e nosso único ímpeto é observar em incredulidade. Não há sombra de dúvidas, esses são os dias em que “ela” nos faltou. Ah! Ela! Personagem tão decisiva dos thrillers mais exóticos aos romances mais água-com-açúcar, majestosa tanto em sua presença como desastrosa em sua ausência. Recitei-a para mim mesmo tantas vezes que já mais que me familiarizei com seu tom arrastado, afastei-me apenas para descobrir que sem ela, vivo aos trancos e barrancos, desmistificado no vazio do infortúnio. Ela a quem hoje sempre comemoro. A Paciência! Nada badalada, talvez pouco cantada em verso e prosa, não obstante reverenciada em um momento magistral de um ícone da MPB bem como em outro de uma das bandas internacionais mais influentes que já tive a oportunidade de assistir ao vivo, “Patience”.
Estaria fadado ao insipiente, ao insolúvel, ao insosso, ao insuficiente, se não tivesse me rendido aos seus encantos. Hoje, como em outros dias singulares de minha existência, retiro um espaço de tempo para contemplá-la, pois sei que sem seu resgate repousaria mais uma vez nos lençóis do arrependimento. Sob sua tutela, no entanto sei que estou resguardado, tenho um estoque infinito de continues para cada game-over que ousar se escrever em minha tela. Se não alcancei o ápice da história é porque ainda estou superando os últimos degraus, não me questionando quantos já subi. Algo de excepcional acontece, quando da renovação da sua vontade de suceder-se, quando se deixa de lado qualquer obstáculo impendente e recoloca-se o foco no ponto que realmente nos traz um significado.
Aprendi através de árduas lições quão invaliável esta aliada é. Numa conjuntura social cada vez mais diligente e acelerada, onde decisões são requisitadas por atacado, não me espanta o esvaziamento de sua aquisição. Sabe aquela célebre frase que você já ouviu da sua avó/mãe/tia/vizinha/sogra, “nunca deixe para fazer amanhã o que você pode fazer hoje”? Bem, lhe darei agora um bom argumento para aquelas vezes que você deseja fingir que não ouviu. Deixe para amanhã sempre que você acreditar que este intervalo é necessário para que você conclua tal assunto em questão com a máxima capacidade possível. Seja esta capacidade relacionada à competência, informação ou simplesmente sensatez. Aguarde aqui, espere ali, mantenha-se lá, não há nada de errado nisto. Existirão situações que demandarão atitudes rápidas e decisões imediatas. Certamente que sim, mas na grande maioria das vezes nem nós mesmos nem nossos reais objetivos irão a lugar algum, caminhemos sem pressa então. Penso que tudo acontece no tempo certo e da forma correspondente, cabendo a nós saber encontrar nosso caminho dentro desta paisagem. Destino? Sim, como o próprio nome do blog já diz, experiencio a vida sobrevoando nas asas do destino. Mas isto, já é uma discussão para outro dia, até lá, que tenhamos paciência..


Não se apresse para chegar ao ponto mais alto de sua escalada na vida. Uma vez lá, você poderá apenas descer...

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